Da elaboração da ficha do Calixtos, o cidadão filho de nobre

Kallipolis: o jogo dos governos
3 min readSep 29, 2021

Calixtos apoia o candidato: Timocrata

As características gerais de Calixtos dizem:

“Claramente eu sou superior àqueles que não pertencem à minha família. Nosso sangue foi abençoado pelos deuses, e todos da nossa linhagem herdam essa grandiosa dádiva. É exatamente por isso que um de nós deveria governar os de linhagem inferior. Afinal, todos percebem nossa grandiosidade observando nossos feitos guerreiros, habilidades atléticas e grande riqueza — a qual estou disposto a usar para comprar amigos que apoiam minhas opiniões”

Todos os resquícios de um pai filósofo que fizemos presentes em Diógenes são perdidos em Calixtos: ele é guiado por uma vontade de distinção radical que ignora qualquer medida exigida pelo temperamento. Esse personagem não se encontra n’A República, ele foi elaborado como um exagero maior ainda da arrogância e necessidade de distinção do timocrata. A disposição para “dar presentes” àqueles que os apoiam, foi desenvolvida a partir de um trecho sobre o timocrata que o descreve como mau com os escravos e afável com os cidadãos livres (VIII, 548d7–549b), traduzindo essa afabilidade em suborno. Ademais, também atribuímos a Calixtos a importância que o timocrata dá a seus feitos guerreiros e talento militar, apresentados neste mesmo trecho.

As posições para debate de Calixtos sobre a Educação, Saúde e Ginástica, sobre as leis escritas e sobre a desigualdade de posses, que apresentam, respectivamente:

“Você acredita que são direito daqueles que nascem destinados a uma boa vida: os nobres”

“Você reconhece sua importância, mas acredita que os nobres devem ter soberania sobre elas, podendo alterá-las de acordo com a necessidade do momento”

“Você é a favor. Afinal, alguns foram destinados pelos deuses a serem pobres, enquanto outros poucos (como você) foram destinados à riqueza”

Foram desenvolvidas em vista de ressaltar a arrogância de Calixtos. Uma vez que esse personagem não se encontra n’A República, elaboramos todos os seus posicionamentos a partir de suas características gerais. Aqui, podemos observar Calixtos defendendo a garantia de certos privilégios aos nobres (que têm tal posto definido por sua hereditariedade), por considerá-los superiores aos demais cidadãos.

Uma vez que a prática da caça é algo descrito n’A República como uma atividade querida pelo timocrata, caracterizamos Calixtos como alguém que se vê inclinado a apoiá-la:

“Você é um grande defensor da sua prática”

Com relação ao posicionamento de Calixtos sobre as guerras e as riquezas, nos quais escrevemos respectivamente:

“Você é um grande defensor da sua prática. Você pensa que elas ajudam na acumulação de riquezas e, quanto mais territórios dominados, mais produtos estarão sob seu poder”

“Elas devem ser acumuladas e aumentadas através das guerras e dominação de territórios inimigos”

Podemos observar que Calixtos, assim como Diógenes, concebe a guerra como uma maneira de adquirir produtos, dos quais a pólis é carente, e de riquezas. Mas, enquanto para Diógenes esse posicionamento era menos radical por ter sido desenvolvido com uma certa influência da cidade temperante, Calixtos está completamente focado no excesso. Ele quer a guerra para acúmulo e domínio de produtos, riquezas e outros territórios.

Tal concepção acaba influenciando o posicionamento de Calixtos acerca dos bárbaros:

“Os bárbaros são inimigos a serem dominados”

Isso porque Calixtos, diferentemente de Diógenes, vê a guerra como algo compulsório, que permite cada vez mais o acúmulo de riquezas e produtos, e não como algo feito apenas diante da necessidade de expansão, logo, os bárbaros são por ele sempre vistos como inimigos.

Nesse sentido, podemos observar o incessante desejo de acúmulo de Calixtos em seu posicionamento acerca do comércio, onde se lê:

“Você defende um comércio interno. Com relação ao comércio com os bárbaros, você é contra; e se a pólis sentir necessidade de algo que só os bárbaros produzem, você acha que a melhor solução é declarar guerra contra eles e dominá-los”

Diante disso, podemos pensar Calixtos, talvez, como a incorporação do timocrata que contribui para a transição da timocracia para a oligarquia (VIII, 550c4–553a5): uma vez que este abre mão do equilíbrio da cidade em prol do acúmulo de bens particulares; enquanto mantém algumas características da timocracia como a apreciação da caça, a arrogância e o talento militar.

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