Da elaboração da ficha do Pétros, o cidadão pobre que deseja enriquecer

Kallipolis: o jogo dos governos
3 min readSep 29, 2021

Pétros apoia o candidato: Oligarca

As características gerais de Pétros são:

“Claramente o dinheiro é a melhor invenção humana. O dinheiro é tão incrível que ele consegue superar seu criador e inaugurar um novo critério de superioridade: quem tem dinheiro é melhor. Eu ainda não sou rico, mas um dia ainda serei um dos grandes, o que será impossível se a pólis perder mais bens: essa perda é o meu maior medo. Por isso, tenho que garantir que o próximo governante seja alguém que vai permitir que eu me enriqueça, para que eu possa ser superior àqueles que não têm dinheiro. Afinal, o governo atual está fazendo um péssimo trabalho no auxílio do acúmulo de riquezas dos cidadãos”

Assim como Heitor, Pétros foi elaborado a partir da seção dos econômicos, que surge em um governo democrático (VIII, 564c13–565c8). O que diferencia Pétros é que ele ainda não é rico; mas, enquanto membro de uma seção da pólis propensa a ter sucesso econômico, ele aspira e vê em seu horizonte a prosperidade e uma grande fortuna em seu nome. Nesse sentido, ele tem que garantir que o governante eleito siga valores que o permitam usufruir de sua avareza quando tiver um grande tesouro acumulado.

Assim, Pétros vê no dinheiro sua possibilidade de crescer, mas, como ainda não o possui e sofreria as dificuldades econômicas pelas quais a pólis pode passar, tem medo da perda de bens da pólis interferir no seu processo de acúmulo de bens e atrasar sua ascensão à riqueza. Dessa maneira, ele deseja um governante que permitirá seu acúmulo de bens e facilitará a satisfação de sua avareza quando acumular uma certa quantidade de riquezas.

Observamos a preocupação de Pétros em acumular bens ao seu limitado tesouro nas posições para o debate sobre a Educação, saúde e Ginástica, e sobre as leis escritas, que dizem respectivamente:

“Você acredita que, se for responsabilidade dos cidadãos pagar pela melhora das três, o investimento deve ser o mais econômico possível”

“Você reconhece a importância delas, mas acredita que devem ser relativizadas se atrapalharem o acúmulo de riquezas”

O posicionamento de Pétros acerca das guerras, das riquezas, e da desigualdade de posses são, respectivamente:

“Você é a favor se forem trazer riquezas para a pólis, mas é contra se for gerar gastos excessivos”

“O acúmulo e preservação delas deve ser o foco de todos, afinal, seu maior medo é perdê-las”

“Você é a favor da distribuição de terras como uma medida provisória; mas acha que, se for possível, seria melhor contribuir para o acúmulo de riquezas sem a distribuição”

Vemos nesses três posicionamentos a preocupação de Pétros em garantir que a pólis não tenha dificuldades econômicas, por sua capacidade de acumular dinheiro depender da estabilidade dos outros. No tema sobre a desigualdade de posses, percebemos Pétros diferenciar-se dos outros oligarcas, uma vez que ele seria beneficiado momentaneamente pela distribuição de terras; mas, ainda assim, prefere alguma outra solução viável, na medida em que, quando ele enriquecer, não vai querer dividir suas posses.

A inquietação de Pétros com a estabilidade financeira da pólis é também expressa nos posicionamentos sobre a pratica da caça, os bárbaros e o comércio (apresentados respectivamente abaixo):

“Você é a favor da prática se ela não gerar muitos gastos para a pólis

“Eles são essenciais para o comércio, mas você é contra a pólis ter gastos com eles”

“É essencial para o crescimento e melhora da pólis, mas ele deve ser realizado com o objetivo de acumular bens”

Isso porque, se a pólis passar por dificuldades, Pétros terá que gastar com suas necessidades básicas uma quantia maior do que a que lhe permitiria ter remanescentes para o aumento do seu tesouro particular.

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