Uma introdução ao jogo

Kallipolis: o jogo dos governos
3 min readSep 30, 2021

Antes de explorarmos propriamente a dimensão teórica do jogo, pensamos ser interessante falar um pouco sobre sua mecânica. Kallipolis contém 13 fichas de personagem, cartas de ação, 11 cartas de tema para o debate e 5 cartas de consequência.

Dentre as fichas de personagem, há 3 modalidades: a do governante, a do cidadão e a do filósofo. Há quatro governantes, sendo que um corresponde à alma caracterizada por Platão como a do timocrata, outro ao oligarca, um terceiro ao democrata, e, finalmente, um referente ao tirano. Há 8 fichas classificadas como de cidadão, sendo dois apoiando a alma de um dos governantes. E, por fim, há apenas um filósofo.

Assim, é necessário um total de 14 jogadores para que a estrutura do jogo seja satisfeita: 13 jogarão como os personagens, enquanto um será o moderador que organizará as partidas.

Antes de começar o jogo, o moderador deve distribuir aleatoriamente os personagens dentre os jogadores. Cada um mantém sua identidade em segredo: os governantes não revelam a natureza de sua alma, os cidadãos não dizem em que alma devem votar, e o filósofo não se assume como tal.

Kallipolis consiste em um debate situado em uma hipotética Atenas Clássica, onde um novo governante deve ser eleito. Nesse sentido, ganha o jogo o governante com a maioria dos votos, junto dos cidadãos que o apoiam; ou ganha o filósofo, caso haja um empate.

Quando o jogo começa, os jogadores que sortearem a modalidade de governante se identificam como tal (ainda mantendo a natureza de sua alma em segredo), e o moderador organiza todos de forma a desenhar um círculo, com os governantes de frente para os cidadãos (ver ilustração no manual de regras). Essa disposição foi pensada para o jogo presencialmente, mas vale destacar que a dinâmica do jogo não é prejudicada caso ele seja realizado no formato on-line: de qualquer forma é o moderador que estabelece a ordem de fala, sendo que os governantes falam antes dos cidadãos e filósofo; a disposição de círculo é apenas uma sugestão nossa para auxiliar a interação dos jogadores presencialmente.

Kallipolis funciona por meio de rodadas: no início de cada rodada o moderador sorteia e lê um tema para o debate, e depois orienta os governantes a expressarem sua opinião sobre o assunto, seguidos dos demais. As cartas de ação podem ser utilizadas pelos jogadores que desejarem quebrar a ordem para expressar-se novamente sobre o que está sendo discutido, ou para falar antes de chegar sua vez — a carta de ação deve ser descartada logo após seu uso, visto que cada jogador deve ter o limite de 5 cartas. Vale ressaltar que, mesmo que o jogador utilize a carta de ação antes da sua vez, ele não perde seu momento de fala, uma vez que todos os jogadores têm em toda rodada a sua vez de expressar-se.

As fichas dos cidadãos e governantes contêm na sua parte superior uma descrição geral do personagem, e na parte inferior suas posições para o debate; em vista de guiar o que é opinado nas rodadas. Assim, o objetivo dos governantes é sutilmente dar dicas para aqueles que o apoiam qual a natureza de sua alma (uma vez que estes teriam posicionamentos semelhantes aos seus), ao mesmo tempo que engana os demais a votarem nele por acreditarem que possui a alma que apoia. O filósofo, por sua vez, também tem sua descrição geral na parte superior da sua ficha, mas sua parte inferior contém dicas sobre as características da alma dos governantes e críticas que podem ser a eles atribuídas. O objetivo do filósofo, portanto, é auxiliar através de suas críticas seus concidadãos a não serem enganados sobre que alma está sendo incorporada pelos governadores.

Quando chega o fim do jogo o filósofo se revela como tal, uma vez que não vota, e os demais cidadãos votam em quem deveria governar a pólis. Se o filósofo foi bem sucedido, cada cidadão votará no governante correspondente a alma indicada em sua ficha, induzindo um empate e, portanto, àvitória do filósofo. Porém, se este não for o caso, ganha o governador eleito junto de seus apoiadores. Na medida em que o resultado é enunciado, o moderador pode ler a carta de consequência correspondente ao vencedor (seja o timocrata, o oligarca, o democrata, o tirano ou o filósofo), revelando o que aconteceu com a pólis após a eleição.

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